O rastro do jaguar



LIVRO, O RASTRO DO JAGUAR, DE MURILO ANTÓNIO DE CARVALHO

Romance que venceu prémio Leya é sobre um índio regressado ao Brasil
A história de um índio Guarani regressado da Europa ao Brasil de finais do século XIX, onde se torna o aguardado chefe guerreiro da sua tribo, valeu a Murilo António de Carvalho o Prémio Leya 2008

Chama-se O Rastro do Jaguar e é o primeiro romance deste jornalista, escritor, argumentista e realizador de televisão brasileiro, de 60 anos, que concedeu uma entrevista à Lusa por telefone, a partir do coração da Amazónia, junto ao rio Tapajós, onde acaba de gravar um documentário.

«É um romance que se passa nos últimos anos do século XIX, um período que cobre três guerras aqui na América do Sul: a Guerra do Paraguai - Brasil, Uruguai e Argentina contra o Paraguai, que foi a principal guerra da América do Sul -, uma guerra pequena, a dos índios Guarani, para sobreviverem ao tumulto que estava sendo causado no sul do Brasil pela Guerra do Paraguai, e as últimas guerras dos índios Aimoré em Minas Gerais, quando eles foram praticamente extintos pelas forças do Governo brasileiro», disse à Lusa Murilo António de Carvalho, para situar a acção.

O livro, indicou, «trata fundamentalmente da vida de um índio brasileiro que foi criança para a Europa e que, nessa ocasião, está de retorno ao Brasil para reconhecer sua terra e seu povo. E quem o acompanha é um jornalista nascido em Portugal, Pereira, que é o narrador do livro».

Apesar de ter nascido em Portugal, o Pereira «acabou indo para França, trabalha num jornal francês e vem à América do Sul fazer a cobertura da Guerra do Paraguai. Junto com ele vem esse índio, que já tem 50 anos e é um músico», prosseguiu.

O índio - frisou - «acaba se tornando um jaguar (o Jaguar que dá nome ao romance), um chefe guerreiro esperado pelos índios Guarani, que são índios com uma profunda religiosidade, eles têm uma cosmogonia muito própria».

«E então, nessa confusão toda, eu consigo descrever historicamente as principais batalhas dessas três guerras e também mostrar um pouco da busca da Terra Sem Males, que é o principal objectivo dos índios Guarani, da cosmogonia Guarani», explicou.

No romance, o jornalista português, «que ficava aqui no Brasil com uma moça de Minas Gerais, volta para França, vai trabalhar lá, ela morre, e ele já está velho e quando volta ao Brasil, para viver na cidade onde ela vivia, na madrugada do primeiro dia do século XX, começa a narrar, em 'flashbacks', toda a sua experiência, toda a história que envolveu a sua vinda ao Brasil, as guerras e tudo o mais», resumiu o autor, no que classificou como «uma síntese um pouco ligeira» de um «livro muito grande», com quase 600 páginas, que escreveu «nos últimos quatro anos».

«Foram quatro anos de trabalho, porque implicou ir a Portugal, a bastantes lugares da França, Argentina, Uruguai... foi necessário fazer uma longa viagem por todas as regiões para adequar a parte de ficção com a parte histórica», concluiu Murilo António de Carvalho.

Fonte: sol.pt